16 novembro 2005

Deturpar a informação


Jorge Branco – Engenheiro - Porto

Notícia a que se refere: JN: Câmara do Porto debaixo de fogo


Li com atenção a declaração que o Executivo Municipal aprovou sobre as suas regras de relacionamento com a comunicação social. Li também com atenção as notícias que os jornais têm trazido sobre a mesma matéria.
Como já vai sendo normal, parecem duas coisas distintas. Lamentavelmente para se conhecer a verdade é preciso ler mesmo a declaração, porque muitos jornais não são capazes de informar com isenção os seus leitores.
O Jornal de Notícias diz que Rui Rio está em blackout, quando o Presidente apenas disse que, a partir de agora, as suas entrevistas à imprensa passariam a ter de ser por escrito. A Visão diz que lhe subiu a maioria absoluta à cabeça, como se fosse preciso ter maioria absoluta para dar entrevistas por escrito em vez de faladas. O Sr. Mário Crespo da SIC lembra-se de dizer que Rio só responde por escrito e com perguntas pré-combinadas, iludindo quem o ouve, já que nada disso consta da declaração publicada. O Sindicato dos Jornalistas entrou em histeria, diz que tudo isto é ilegal, que a democracia está em perigo e que, na democracia deles (dos jornalistas), um Presidente de Câmara não tem a liberdade de dar entrevistas por escrito e tem de atender o telefone a todos os jornalistas – porque Rui Rio também disse que todo o relacionamento com os jornais terá de passar primeiro pelo Gabinete de Imprensa da Câmara.
É uma pena ver tão fraca actuação da comunicação social. Tão fraca quanto fraco está o País e a democracia em que vivemos.
Infelizmente uma grande (enorme) parte dos jornalistas acha-se, hoje, impune e acha que pode mandar em todos, condicionar tudo e escrever o que lhe apetece.
Não descortino onde está o blackout que o JN inventou. Não vejo falta de democracia no Presidente que acabou de ganhar eleições a uma comunicação social que se lhe opôs permanentemente. Não percebo a posição pouco inteligente e até arrogante do Sindicato dos Jornalistas.
Vejo, sim, uma grande parte da comunicação social prepotente e muitas vezes desrespeitadora dos direitos das pessoas. Percebo, sim, que em Portugal há um político que tem a coragem de fazer e dizer o que muitos acham que deve ser feito e deve ser dito, mas não conseguem ser consequentes.