Quando alguns jornalistas envergonham toda a classe
Manuel Teixeira – Chefe de Gabinete do Presidente da Câmara do Porto
Notícia a que se refere: Câmara define linhas de relacionamento com a Comunicação Social
As linhas de orientação no relacionamento da CMP com a Imprensa, tornadas públicas recentemente pelo Presidente da Câmara, desencadearam múltiplas reacções. Umas de aplauso, outras de crítica. O que é normal em democracia. Mas entre os críticos ouviu-se o coro de alguns jornalistas, indignados com as alegadas limitações de acesso às fontes de informação, e não só...
Se dúvidas houvesse sobre a justeza e razão de ser das medidas tomadas, bastaria fazer um pequeno exercício: ler alguns dos comentários feitos por profissionais do sector, e compará-los com a nota escrita que sobre a matéria foi distribuída precisamente aos jornalistas (consultar site). As conclusões seriam óbvias: ou alguns desses jornalistas são incapazes de interpretar um texto simples e traduzi-lo com rigor para a opinião pública, ou efectivamente assumem-se como profissionais da deturpação, interessados na fabricação de epifenómenos políticos e na melidicência gratuita.
Estes comportamentos só podem envergonhar a classe. Ou porque dão dela uma imagem de enorme incompetência, ou porque tais actuações mancham o bom nome e capacidade de excelentes profissionais que existem nas nossas praças jornalísticas. Seja como for, basta que uma minoria actue de forma incorrecta para se justificar que se tomem todas as cautelas, em nome do respeito que é devido aos cidadãos, e que têm direito a informação rigorosa e isenta.
De facto, o que o Presidente da Câmara do Porto decidiu fica a anos luz do que se faz em circunstâncias semelhantes nas mais avançadas democracias. Recomenda-se vivamente aos jornalistas que investiguem como funcionam os gabinetes de comunicação da Casa Branca, da Moncloa, do Eliseu, ou das câmaras de Paris, Marselha, Madrid, Barcelona ou Nava Iorque... Recomenda-se que analisem os métodos e organização das entrevistas para a Imprensa, Rádio ou Televisão naqueles serviços... Recomanda-se que investiguem quem tem acesso e como são creditados os jornalistas naquelas instituições, etc etc.
Finalmente, apenas uma palavra sobre as “ameaças à liberdade de expressão”. Será que na sociedade da informação e da comunicação global ainda existem jornalistas que alimentam o fantasma das limitações ao livre exercício da informação e de acesso às fontes? Mas em que planeta vivem? Ainda não se deram conta que há muito acabou a era dos “grandes segredos e mistérios”? Não se deram ainda conta que a nossa democracia dispõe de todos os meios (e bem) de vigilância e controlo de poderes e decisões?
Em nome da grandeza do regime democrático bom será que a classe jornalística, de que orgulhosamente faço parte há mais três décadas, prepare uma grande reflexão interna, e promova um debate sobre a sua própria organização no sentido de encontrar formas que permitam a certificação da informação, proporcionando aos leitores, ouvintes ou telespectadores distinguir o trigo do joio. Enquanto tal não acontecer, corremos sempre o risco de pagar o justo pelo pecador, dando razão aos que consideram que nunca como hoje foi tão longe a falta de credibilidade dos média...
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