24 agosto 2006

Planeamento do incremento turístico no Porto a longo prazo


Gustavo Costa - Músico - Porto

Notícia a que se refere: Mais de 50 mil visitantes visitaram o Porto no primeiro semestre de 2006


Sendo um Portuense orgulhoso, não deixo de ficar sucessivamente desiludido com a forma como a cidade onde nasci vai sendo dirigida. Costumo viajar pela europa com alguma regularidade, e de cada vez que volto tenho a sensação que o Porto, e de uma forma geral, todo o Portugal estão votados a uma atitude dirigente retrógada que parece não conseguir tomar decisões consistentes a longo prazo. Quando vejo o número crescente de turistas no Porto, em nada fico surpreendido; o Porto possui um dos mais belos e singulares patrimónios arquitectónicos e, mais do que tudo, uma hospitalidade muito própria, devidamente apreciada pelos turistas. No entanto, todo este património está completamente degradado, a cidade encontra-se literalmente deserta de moradores, e é óbvio que o esforço que tem sido feito não é suficiente. A revitalização do centro da cidade terá que passar, primeiro de tudo, com o incentivo REAL aos novos habitantes, principalmente os mais novos, mesmo que a título temporário, como os estudantes. No centro do Porto sairam recentemente polos universitários como a Faculdade de Ciências ou a Faculdade de Engenharia, que só por sí movimentavam mais de 10 mil jovens pelo centro da cidade. Porque não criar incentivos para a ocupação temporária de edifícios que estão temporáriamente desocupados, como tem sido feito, com sucesso, noutros países europeus? De todas as cidades que percorri, o Porto é de longe a cidade com o maior número de edificios desocupados; ao mesmo tempo, crescem como cogumelos novas construções de mau gosto indiscutível, inclusivé no centro da cidade. Uma cidade turística não é só o seu centro histórico, mas toda a sua envolvência. E como este artigo se prende com a vinda de turistas ao Porto, porque não falar da vergonhosa situação da cidade no que diz respeito a espaços verdes? Depois da calamitosa intervanção na Avenida dos Aliados e no jardim da Cordoaria, porque não assumir dignamente um erro e partir para uma atitude verdadeiramente progressista, tal como a criação de novos espaços verdes no centro da cidade? Aproveito para lembrar a situação terceiro mundista do Campo 24 de Agosto; porque não a criação de um pequeno jardim que se prolongue da actual central de camionagem até á Avenida Fernão de Magalhães? Ou mesmo o pequeno espaço de camionagem perto da Praça da Batalha? Estas situações têm que ser tomadas em conta, mesmo que implique elevados custos financeiros e o derrube de alguns edificios que nunca deveriam ter sido construidos em primeiro lugar. Porque não ter aproveitado o espaço da Rua Fernandes Tomás, onde agora vai ser construído (mais um) centro comercial? O que incrementará o turismo, uma cidade descaracterizada ou um espaço vivo e afável?