09 novembro 2006

Subsídios


Fernando Pais - Professor - Mortágua

Notícia a que se refere: Rui Rio acaba com subsídios


Tiro o meu chapéu à decisão de Rui Rio de acabar com subsídios generalizados a colectividades, grémios, clubes, associações ditas culturais, desportivas e recreativas, casas do povo, casas de pescadores, instituições culturais, recreativas,desportivas e quejandos, que os contribuinte têm sustentado à força, através das chamadas "políticas" nacionais, regionais e locais. Fui vereador responsável pelo pelouro de desporto e cultura numa câmara do interior e, ao cabo de um ano, ano em que estive em funções, as minhas propostas de atribuição de subsídios foram praticamente igual a zero. Motivo? Apercebi-me de que, na sua grande maioria, o contributo social, desportivo, cultural de colectividades ditas de "cultura, desporto e recreio", a começar nos clubes de futebol ditos amadores com jogadores profissionais, etc, era praticamente nulo. Foram na altura pedidos projectos de actividades, a que quase ninguém deu resposta. Os resultados dos (grossos) investimentos feitos depois no tal desporto, cultura e recreio estão à vista. Bem podem limpar as mãos à parede. A conclusão a que cheguei e que tenho confirmado, dramaticamente, ao longo dos anos, é que a "política" de subsídios é, no fundo, essencialmente uma forma de os políticos arrebanharem votos investindo nas colectividades, que lhes dão o retorno no momento das eleições. Não são os políticos que, generosamente, tiram do seu bolso o dinheiro para "socialmente" investirem: antes são os políticos eleitos que, de forma "generosa", vão ao bolso dos contribuintes, investindo em núcleos e sectores nevrálgicos que constituem um manancial de votos que amanhã os reponham no poder. O País não pode continuar a assistir impávido e sereno ao esbanjar de dinheiros públicos para actos "culturais" como: tunings, rallies, festas populares, torneios de sueca (é verdade a que assisto in loco) enquanto o cidadão comum sua as estopinhas para viver depois de pagar os impostos e espera anos ou morre à espera de uma intervenção cirúrgica. Civicamente penso que os autarcas deveriam ser responsabilizados, em termos judiciais, pela forma como gerem e utilizam o dinheiro dos contribuintes. Numa fase do império Romano, as classes nobres pagavam à populaça para se irem divertindo até que, chegada a época das eleições, elegessem os seus senadores. O tempo é outro, terá que ser outro. O país está demasiado atrasado para brincarmos com os magros recursos que temos. Como diziam os antigos, primum vivere, deinde philosophare, ou, em português corrente, antes de comprar perfumes, é preciso comprar sabão para tratar da nossa higiene primária.Rui Rio tem a coragem de fazer o que deve, como cidadão e político responsável. Venham outros assim: critério nos subsídios, responsabilização, respeito pelo povo que paga os impostos, respeito pelo dinheiro dos que, no fundo, sustentam a própria classe política.